Passaram-se 10 anos do maior campeonato nacional de Bandas e Fanfarras que foi realizado em Taubaté – SP.
No ano de 2013, o cenário marcial no Brasil era outro. Grandes corporações estavam se preparando, com seus campeonatos estaduais ocorrendo, para o que viria a ser o maior Campeonato Nacional da década! (e até hoje o mais polêmico).
Nós do Grupo PlanetaBandas, ouvimos, questionamos amigos, maestros, pessoas da CNBF (Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras) da época, representantes de entidades estaduais, musicistas e até jurados deste Campeonato Nacional e enumeramos 5 pontos importantes e de reflexão no nacional 2013 e para futuros campeonatos nacionais.
Estes pontos são, além de uma opinião de nossos integrantes do Grupo PlanetaBandas e demais participantes, um resumo dos envolvidos no certame, que deram o aval para que estes bastidores e questionamentos viessem a público.
Seguem os pontos abordados e discutidos:
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O Campeonato Nacional em si
Taubaté, cidade do interior do estado de São Paulo, abrigou todas as categorias técnicas do evento de 2013, e já havia realizado em 2003 também, na mesma Avenida do Povo, o nacional 10 anos antes, que teve até alguns “mal-estar”, mas nada que comprometesse o certame, que foi bastante interessante.
Voltando a 2013 e analisando a parte da infraestrutura, muitas coisas estavam fora do desejado e até causaram problemas a algumas pessoas, devido a:
- Falta de água potável na avenida;
- Sanitários Químicos (número insuficiente);
- Escolas que não possuíam chuveiros;
- Local do evento não possuía comércios, e nada por perto estava aberto;
- Barracas colocadas para a alimentação tinham um atendimento muito bom, mas eram insuficientes para todos e não atraíram as pessoas devido aos poucos produtos oferecidos;
- A iluminação da avenida era boa, mas devido à chuva forte do sábado (07/12/13) a noite, muitos pontos de goteiras impediam que as pessoas se sentassem em diversos pontos (até a comissão julgadora teve que se “mudar” para escapar das goteiras).;
- O estacionamento dos ônibus estava sem policiamento algum (aliás, só notado no domingo, (08/12/13);
- A única ambulância no evento não dava conta da quantidade de musicistas e membros dos corpos coreográficos com problemas devido ao calor, desidratação e outros fatores.
- Enfim… para um campeonato com a estrutura de um NACIONAL, neste ponto, falhas inadmissíveis e que COM CERTEZA foram levadas (ou não) em consideração em próximas edições.
Nota: Para exemplificar, alguns cofabans em cidades menores conseguem se organizar e mobilizar a cidade para acolher o grande número de visitantes que um evento deste gera e com um comércio bastante movimentado, o certame toma maiores dimensões e com certeza, maior visibilidade.
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Os participantes de 2013
Diferente do nacional 2012, onde as fanfarras foram “jogadas” no extremo norte do país (estado do Pará), inviabilizando qualquer viagem, e transformando a etapa num “estadual paraense parte 2”, o nacional de 2013 teve mais de 60 corporações. Poderíamos ter mais? Sim. Devemos pensar em mais? SIM!!! Muitos estados não participaram devido a diversos problemas, finanças, logística, e até por não se entenderem bem com a CNBF.
Estados com grande tradição em bandas e fanfarras, estados que cresceram muito musicalmente e em qualidade de corporações, como Bahia, Ceará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Amazonas, fizeram falta neste nacional. Com estes estados e outros mais teríamos SIM um campeonato nacional de verdade. Seriam muitos dias? É planejar! Planejamento, estudo e foco é o que norteia um campeonato nacional. Não só custos, nem vontades políticas.
Espaços públicos pelo país temos inúmeros. Grandes espaços, como sambódromo de SP e RJ, algum centro de exposições com infraestrutura adequada, conforto para os espectadores e musicistas, apoio em todas as frentes e acima de tudo, um contrato com as grandes mídias brasileiras e apoio as TVS educativas (como a TV Cultura de SP, TVE do RJ por exemplo), para que a grande massa consiga entender o que são realmente e como está diversificado, técnico e artístico o meio de bandas e fanfarras no Brasil. Mesmo assim, os participantes que estiveram no evento davam a noção de que teríamos sim, um grande campeonato em números (com mais corporações paulistas e cariocas):
Problemas foram observados nos dois dias iniciais do evento em categorias Infanto e Juvenil, de fanfarras simples, com 1 pisto e até bandas de percussão:
- notas em planilhas rasuradas;
- ordem de apresentação não sendo cumprida;
- confusões ponuais entre alguns integrantes de fanfarras com 1 pisto;
- trânsito caótico no entorno da Avenida do Povo;
- pouco publico.
3. Categoria Sênior de Bandas Marciais: SHOW e PROBLEMAS
Diferente das entidades de bandas e fanfarras do sudeste (OCIFABAN, FFABESP, FFABERJ), Associações do Nordeste (ABANFARE, ANNEBAF), do Sul (AGB, ABAFAVI) entre outras, o nacional da CNBF, que “deveria” seguir um regulamento que é votado, discutido e aceito em reunião no início de cada ano, em congresso técnico, com o aceite de todas as corporações participantes, não o é!
As apresentações dessa categoria foram algo nunca visto no Cenário Nacional Brasileiro, onde todas fizeram o público e entusiastas viver algo único, exclusivo, memorável e inédito até então.
Mas a questão não é do regulamento em si, a questão é pensar: “bem, já que a CNBF é assim desde sempre, já que não vão fazer nada, já que não se tem nenhum critério para seguir um regulamento, vamos que vamos, não é… “
NÃO, NÃO É!!!! E NEM TEM QUE SER ASSIM!!!
Aos entendidos e os que analisaram friamente o resultado, ouvindo as apresentações, assistindo as corporações e depois de anos e anos, acompanhando em vídeos, independente de qualquer implicação, além de infringir o regulamento da CNBF, repetindo uma peça musical (artigo 34), corporações musicais fizeram de sua vinda a este nacional uma epopéia que fez com que alguns tivessem “pena” da distância e do cansaço pela distância que percorreram até chegar a Taubaté, e por isso, influênciou um resultado a jurados que não julgam com foco técnico qualquer corporação e se levam por fatores externos.
Além disso, reuniões “as escondidas” no hotel onde os representantes da entidade e demais participantes das equipes técnicas e PASMEM, maestros de corporações se hospedavam, foram feitas para se decidir “quem levaria o troféu de campeão na categoria Banda Marcial Sênior”.
Fontes ligadas e pesquisadas neste texto relatam que essas reuniões aconteciam três dias antes do evento, com premissas de que “se eu não ganhar, minha prefeitura cortará verbas e acabará com o projeto” e alguns favores prévios como “2013 eu levo, 2014 você leva e vamos seguindo assim”.
Mesmo com a interpelação da OCIFABAN na época, gerando um grande tumulto na promulgação dos resultados finais, o resultado de 2013 das bandas marciais sênior só seria decidido em março de 2014, com processos sendo corridos até na justiça comum, e com uma dezena de recursos enviados a Confederação Nacional.
Isso mostrou a fraqueza comissão avaliadora e da diretoria executiva da época e ficou mais uma vez confirmado que, depois de 2009, a CNBF privilegia qualquer corporação que não fosse do estado de SP. Seria por que a FFABESP na época (2013) se desfiliara da CNBF e a OCIFABAN realizando um campeonato não agradava a CNBF?
Nota: atualmente, existe uma outra entidade nacional, a LBF – Liga Brasileira de Bandas e Fanfarras onde a OCIFABAN é ligada, e a FFABESP é filiada novamente a CNBF.
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Recursos e processos
Foram mencionados dezenas de recursos a este campeonato nacional, de todas as categorias técnicas, mas mais de 80% deles só na categoria Banda Marcial Sênior.
Para explicar: é aberta a possibilidade de recursos para corrigir os fatos verificados no decorrer de um campeonato e o mesmo deveria ser julgado no dia, independente de 1,2,5,100 recursos. Para isso, a entidade possui um tribunal de ética. OS 15 dias solicitados por ela na época, para divulgação das posições sobre os recursos abertos deveriam ser cumpridos à risca. Além destes recursos, tiveram muitos processos abertos por pessoas comuns alegando “danos morais em conjunto a um grupo ou comunidade”. E este tempo NÃO FOI RESPEITADO. Resultado promulgado apenas 3 meses depois, com os processos já prescrevendo e mais e mais processos chegando à CNBF.
Precisamos disto? Como em muitos eventos, o correto e que deveria ser feito: “A banda x, infringindo o regulamento no artigo X perderá x pontos”. Independentemente do resultado final, que a grande maioria não contesta é o regulamento mas sim o resultado de um campeonato, que foi dado apenas para se fechar um problema momentâneo da CNBF.
O ataque constante a instituição pelas mídias sociais foi incessante e constante, a ponto de músicos também terem movido ações pessoais de dolo contra a CNBF e até a prefeitura de Taubaté.
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Considerações Pós-Nacional 2013
Depois de todo esse episódio formado e consequentemente, dos processos terem corrido, o resultado foi oficializado em março/2014 com mapa de resultados corrigido, isto na categoria Banda Marcial Sênior, mas AINDA com pendências em outras categorias que, 10 anos depois, NÃO FORAM RESOLVIDAS.
O mais grave ainda estaria por vir: em 2017, na etapa final nacional em Aracaju – SE, o presidente da CNBF na época resolvia com um “papel de pão” que o resultado da categoria Banda Marcial Sênior estava errado, voltando a classificar a banda no nordeste como campeã mas mantendo punição à banda do sudeste. Fato que, corrigido posteriormente, foi descreditado, e não consta nos levantamentos feitos pela própria CNBF em 2023.
Dos redatores:
Estas informações e opiniões são apenas um breve resumo do que aconteceu nos bastidores do XXI Campeonato Nacional de Bandas e Fanfarras de Taubaté – SP em 2013. Muito se comentou e se comenta até hoje sobre este campeonato, muitas informações nem foram mencionadas e nem puderam estar neste texto, devido a sigilo, processos AINDA em andamento na esfera jurídica e a resguardo de depoentes de envolvidos direta e indiretamente nos bastidores.
De 2013 para 2023, muita coisa aconteceu:
- eventos cada vez menores e até não ocorrendo (não tivemos campeonato nacional em 2015)
- A pandemia de 2020
- resurgimento de corporações que neste meio tempo pararam as atividades mas retornaram.
- A ascenção do movimento marcial no nordeste
- novas entidades surgindo nos cenários estaduais e brasileiro
- morte de pessoas e ícones influentes
- problemas entre corporações e acirramento de disputas por poder
- monopólios entre entidades, bandas, maestros e coordenadores.
- Muitas melhorias no ensino e temática de ensaios, mesmice em algumas corporações que pararam no tempo e infelizmente um aumento de desunião e egos inflamados que vem desde os anos 2000 em diversas corporações (principalmente nas categorias Sênior / Master).
Tais informações, bastidores e comentários neste artigo servem como reflexão, para que tenhamos um ambiente marcial saudável, musical, competição limpa, regras sendo seguidas, sem conchavos, sem todos os problemas que temos visto em eventos já neste 2023 que se encerra. E que 2024 seja um ano fundamentalmente marcial, fanfarristico, bandístico e de muito show, sonoridade, música e qualidade.
Nota: Este artigo respeitou as opiniões e informações de todos que, voluntariamente, contribuíram para esta redação dos bastidores do Campeonato Nacional de 2013 da CNBF. O Grupo PlanetaBandas não é autor do texto, atuando apenas como redator e publicador. O texto foi revisado pela área legal do Grupo.
Fotos: PlanetaBandas / Liga dos Fanfarrões
Vídeos do Campeonato Nacional 2013 – Youtube
Banda Marcial de ITAPEVI – IACES – Itapevi – SP
Banda Marcial SEDEC – João Pessoa – PB
Banda Marcial do Colégio Marista Pio XII – Ponta Grossa – PR
Banda Marcial de Sorocaba – BAMASO – Sorocaba – SP
Banda Municipal de Barra Mansa – RJ
Corporação Musical Yolanda Ascêncio – São Caetano do Sul – SP
Vídeos dos canais:
André Souza – https://www.youtube.com/@andresousa1522
Fanfarreando – https://www.youtube.com/@MegaDANDINO
Documentos:
Mapa de Notas do Campeonato Nacional 2013 https://www.cnbf.org.br/index.php/download/2013-mapa-de-notas-atualizado/
Punição do Corpo Musical – Categoria Banda Marcial Sênior – https://www.cnbf.org.br/index.php/download/2013-punicao-corpo-musical/
Regulamento Oficial – Campeonato Nacional 2013 https://www.cnbf.org.br/index.php/download/2013-regulamento-campeonato-nacional/
Agradecimentos:
- CNBF – Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras
- FFABESP – Federação de Fanfarras e Bandas do estado de São Paulo
- AGB – Associação Gaúcha de Bandas
- Maestros do Campeonato Nacional 2013
- Jurados do Nacional 2013
- Guia Taubaté
- Acessoria Jurídica – Grupo PlanetaBandas
- TJ – SP